terça-feira, 30 de agosto de 2011

A.

Minha mãe escolheu meu nome porque, segundo ela, achou o significado “forte”: “digna de ser amada”. Confesso que também o acho.
Gosto do silêncio, das paredes violeta do meu quarto, da minha bagunça organizada de livros, CDs e DVDs. Gosto das fotos espalhadas pelas paredes dele, que me fazem me lembrar de pessoas e momentos que levo sempre comigo.
Odeio acordar cedo. Gosto de ter tempo para despertar, enfiar bastante a cara no travesseiro e sentir a textura do edredom se despedindo da noite. Tenho uma mania quase doentia de não me desgrudar nunca do meu celular, que dorme comigo, na cabeceira da cama.
Acordo de mau-humor e odeio essa minha característica. Quem trabalha comigo já sabe e (às vezes) entende.
Adoro café, cerveja e água, muita água. Detesto água com gás e suco de goiaba. Não como tomate e nunca comi. Tolero no vinagrete e no molho, e só. Sou doente por chocolate e ele me serve como um alimento genérico: se estou triste, como chocolate. Se estou feliz, como chocolate. Se estou entediada, como chocolate.
Respiro música. Miles e Coltrane me fazem entrar em outra dimensão. Elis e Bethânia me levam pra dentro dos meus sentimentos mais confusos, e, nessas horas, nem sinto tanta frustração assim por ser confusa (coisa de capricorniano com ascendente em Gêmeos), só pra poder cantar com alma, mesmo que seja só pra mim mesma.
Tenho uma tendência extrema à melancolia, e, muitas vezes, sou mal-interpretada por isso pelas pessoas que vivem comigo. Sou prática, mas delicada. Romântica, mas realista. Carinhosa, mas agressiva. A garota-dicotomia.
Sinto uma alegria imensa quando ganho um sorriso de alguém assim… de graça. Sinto uma alegria imensa quando vejo que um aluno entendeu algo que acabei de ensinar. Sinto uma alegria imensa quando abro o horizonte literário-musical de alguém sem ter pretendido fazê-lo. Sinto uma alegria imensa quando vejo um artista subir ao palco, em grande parte, porque eu contribuí para tal.
Adoro abraçar e ser abraçada. Não beijo ninguém meramente por educação, realmente encosto os lábios nas bochechas alheias e já percebi que nem todo mundo vê isso com bons olhos. Adoro olhos, sorrisos e mãos, e me valho deles para entender em parte a complexidade do ser humano.
Tenho mania de ficar tentando me identificar nas músicas que escuto, e sempre separo trechos que me interessam, como se, futuramente, eles pudessem contar um pouco mais pras pessoas como é que me sinto. Adoro saber falar francês e sei que preciso estudar mais inglês. E aprender espanhol. E alemão. E música.
Ando entediada com o ser humano, mas quero acreditar que um dia isso há de passar. Minha família é tudo pra mim. Por eles, sou capaz de bater e apanhar. Meus amigos são meu porto-seguro e, sem eles, seria certamente uma pessoa muito mais áspera e amarga.
Fui uma criança adultinha, uma adolescente adultinha e sou uma adulta adultinha que se cobra o tempo inteiro. E que sofre muito por isso. Já fiz terapia. Foi bom e pretendo voltar quando sobrar uma grana.
Quando amo, amo com toda a minha verdade. Por isso meus amores são raros. Nunca fui de ter envolvimentos rasos nem amores platônicos. Sempre fiz questão de dizer ao outro tudo o que sentia; por isso, também, já fui bastante ferida.
Se os sentimentos se tornam maiores do que posso suportar dentro de mim, pego caneta, papel e escrevo. Seja por amor ou por ódio. Simplesmente escrevo; mas não me considero poeta e nem o pretendo. O poema mais verdadeiro e intenso que já escrevi foi para um grande amor que hoje está longe de mim, mas muito mais perto do que acho que ele possa imaginar. O grande amor. Grande e triste em sua medida.
Sou curiosa e adoro tecnologia.Sou mimada pela minha avó e não tenho o menor pudor de admitir isso. O maior sonho que realizei, até hoje, foi conhecer Paris, e sem gastar um único Euro.
Tenho muita fé e sei que minha sensibilidade (ou intuição, ou sei-lá-o-quê) é bem aguçada e que devo tomar cuidado com ela.
Sou vaidosa à minha maneira. Sei que nunca vou ser magra, mas valorizo o que julgo mais bonito em mim. Gosto de ser ruiva, de manter meus cabelos curtos e as unhas sempre bem cuidadas. Adoro esmalte vermelho, mas também gosto das nuances do lilás e do rosa. Acho todas as pin ups lindas e fico lisonjeada quando uso delineador, batom vermelho e me dizem que lembro uma delas.
Não sei como vivi uns bons anos sem Internet e IPod. Amo Cinema, mas não banco a entendida e assumo a todos que gostaria de saber muito mais do que sei sobre esse assunto.
Tenho um grande carinho por Santo André, mas sei que meu lugar não é aqui. Amo São Paulo, com suas nuances de cinza, de gente e de cenários. Amo muito o Rio de Janeiro e algumas pessoas que lá estão. Muito. Sinto uma saudade dolorida de lá todos os dias, sem exagero.
Quero ter pelo menos um filho e dois cães. Minha vida ficou bem mais colorida depois que adotei a Maya, minha cadela.
Sei dirigir, mas não gosto, acho estressante demais. Porém, tenho consciência de que uma hora vou ter que me render ao sistema e me jogar no volante pelas ruas.
Não sei como me imagino daqui a dez anos. Só sei que quero ser muito feliz, seja lá o que isso signifique. Um dia, eu descubro. Quem sabe. Mas quero continuar sendo, pelo menos, essa pessoa que hoje sou: cheia de amigos, de boas lembranças, rodeada de livros, de músicas e de um coração meio cheio e meio vazio, como o copo daquela metáfora gasta.


Amanda Souza
Maio/2010

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