segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Das Nostalgias


Sou do tempo das coisas simples e mais gostosas da vida. De quando a gente tomava coca cola em garrafa de vidro, comia biscoito de camarãozinho na escola, sou de quando a correspondência era só via correios e a gente esperava ansiosamente pela carta.

Sou da época em que o mimeógrafo era usado para imprimir as provas escolares, a gente recebia o papel ainda molhado e cheirando a álcool. Lembro que na lista de material da minha escola tinha sempre o item: "Matriz roxa", as vezes vinha até a marca: "carbex".

Mas nada marca mais a minha infância do que a datilografia. No meu tempo, quem não tivesse curso de datilografia, era atrasado. Lembro que ao lado da minha escola havia um curso chamado "elite" e na minha cabeça infantil, enamorada e já romantizada pelos livros e pela escrita, toda e qualquer pessoa que adentrava os portais daquele maravilhoso curso, pertencia à elite, eram todos donos de um mundo mágico do qual eu não fazia parte. O barulho daquele curso era infernal e hoje mesmo ainda posso ouvir as onomatopéias das máquinas de escrever. O plec plec do teclado e o plim de quando a linha a ser escrita chegava ao fim. Era uma época em que a gente 'batia' textos e era tudo mais difícil, o "delete" era algo inimaginável.

Ah, quantas saudades desse tempo, recordo-me agora da máquina de escrever que eu ganhei quando fiz 8 anos de idade, era uma hermes baby portátil que eu guardo com carinho até hoje. Na época, custava uma pequena fortuna, foi meu  avô Adolpho quem me deu. Ele, quase um doutor em oratória dizia: - Esse meu neto será escritor e daqui sairão seus livros, também meus discursos políticos. Pobre vovô, da minha hermes baby nunca saiu nem o esboço. Eu nunca fiz um curso de datilografia, culpava isso pela minha falta de jeito em 'bater' meu livro. Mas naquela época, nos meus dourados e ingenuos oito anos, as ilusões eram permitidas e até acalentadas e eu imaginava minhas histórias publicadas em livros. As histórias se desenhavam na minha cabeça, nítidas e vívidas como meu lego e meus bonecos de comandos em ação. Minhas histórias mirabolantes cresciam em mim, eu contava e recontava, montava, remontava e desmontava quando tivesse vontade. Eram belas histórias, mas a hermes baby nunca contou nenhuma delas, nenhum sonho, nenhum devaneio.

Hoje eu olho a minha máquina de escrever, velha, sem fita de tinta, empenada, aposentada pela era digital, pela velocidade da internet, pela facilidade do delete e pela milagrosa invenção do backspace. Fico me perguntando que histórias eu escreveria naquela época. No homem de hoje, sobrou pouco do menino de outrora, no entanto a paixão pelas escritas existe. Será que se eu tivesse usado mais a minha máquina de escrever, eu teria virado um doutor das letras? Ou será que eu seria mesmo esse que hoje se senta diante de uma tela de computador e tenta parcamente reproduzir sua época mais feliz da vida?

De qualquer forma, ainda sou aquele menino de olhos curiosos, com a cabeça no mundo da lua e romântico, ainda sonho escrever meu livros, ainda quero ser um escritor, um mero contador de histórias e estórias de um mundo encantado pertencente somente a aqueles que sabem sonhar de olhos abertos.

2 comentários:

Cristiane disse...

Vc sempre vai sonhar de olhos abertos ou fechados com estes olhinhos puxados e curiosos. Estranhamente, li o texto todo com o som da tua risada a me embalar... Vc sempre será um menino pra mim <3

Rosana disse...

Ai que saudade do vovô!

Eu acho que o homem Hugo não difere muito do menino Hugo e isso é o que mais encanta em vc.

Beijo