quinta-feira, 28 de abril de 2011

A dor de todo mundo

Nunca achamos que o mal nos atingirá. Tudo de ruim só acontece com nosso vizinho, naquele nosso conhecido, no moço da esquina. Assistimos a novela da vida alheia de camarote no conforto do nosso lar: Filhos matando pais, pais matando filhos, pessoas mortas pela estrada, corpos jogados no esgoto, bandidos que levam a dignidade das pessoas, nos roubam carros, dinheiro e nos sobra a vergonha e uma tremenda impotência, No conforto de nossa paz, somos apenas compadescentes, empáticos e na maioria das vezes indiferentes, não por maldade, mas é que a violência está tão banalizada que se tornou corriqueira.

Quando o mal urbano nos acomete sentimos a dor do mundo e de todo mundo, a ira que nos consome é como um veneno letal que não nos mata assim de morte morrida e nem de morte matada. Com o coração batendo, olhos piscando e cabeça funcionando, sentimos o veneno percorrer lentamente pelo nosso corpo. Um veneno paralisante, inquietante que amputa sem anestesia.

Clamamos então por justiça, a mesma que condenou o casal Nardoni e a Richthofen e a tantos outros monstros que a sociedade cria, acolhe e depois os expõe, numa talvez expiação pelos seus pecados, e  porque não, pecados do mundo. Recebemos na justiça o alento e a sensação de vingança, prêmio por tanto sofrimento causado.Mas pena nenhuma - justa ou não - diminui a dor, muito menos traz a paz, os sorrisos, as companhias, a nossa dignidade, nossa segurança, nosso prazer de ir e vir.

Na boca, o gosto amargo perdura; na alma, uma ferida eternamente exposta. Enquanto isso, de tempos em tempos nos enchem os olhos com mais um ato de uma peça sem final feliz e nós, compramos a história como se ela fosse nossa, até que outra a substitua. Mudam-se os atores, o roteiro, mas o enredo é o mesmo. Quanto mais dor melhor, quanto mais sangue, mais ibope porque o espetáculo não pode parar.

3 comentários:

Renata Castro disse...

Eu ando muito cética a respeito desse mundo. Não sei o que esperar do futuro e do lugar onde meus filhos e netos irão viver.

Trolladora disse...

"Na boca, o gosto amargo perdura; na alma, uma ferida eternamente exposta." forte isso.

Hugo disse...

Renata O problema não é do mundo, é de quem o habita. AInda dá tempo de um novo roteiro e a arte pode superar a vida.


Mariah O sistema é bruto